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Ferdinand Victor Eugène Delacroix
1798 -1863
Delacroix
foi um dos maiores pintores do Romantismo. Segundo a crença popular, era filho
ilegítimo do famoso estadista Talleyrand — fato nunca suficientemente
esclarecido. O certo é que, quando jovem, Delacroix recebia uma respeitável
ajuda do governo, como se alguém muito poderoso o estivesse beneficiando em
segredo.
Freqüentava
os círculos elegantes, onde era, aliás, muito requisitado, apesar de sua
personalidade turbulenta, que se ocultava sob grande encanto pessoal. Expôs
inúmeras telas no Salão de Paris. A crítica em geral recebia seus trabalhos com
frieza, mas muitos de seus quadros foram adquiridos pelo governo. Nos últimos
trinta anos de sua vida, Delacroix pintou murais gigantescos para igrejas e
edifícios públicos da capital francesa. Morreu aos 65 anos de idade em
isolamento voluntário.
Um Espírito Febril e Conflitante
Figura fascinante, Delacroix, por
trás do encanto e dos gestos elegantes, escondia uma impetuosidade vibrante e
turbulenta, quase selvagem, apenas revelada em sua arte.
Ferdinand
Victor Eugène Delacroix nasceu no subúrbio parisiense de Charenton-Saint-Maurice
em 26 de abril de 1798. Sua mãe, Victoire, provinha de uma ilustre família de
desenhistas de móveis da casa real francesa. E seu pai, Charles Delacroix, era
membro do governo revolucionário, tendo votado pela execução de Luís XVI em
1793.
Charles foi
também ministro das Relações Exteriores, mas, em 1797, foi rebaixado de posto,
pois o nomearam Embaixador da República francesa na Holanda. Estava portanto no
exterior quando Eugène nasceu. Tanto é que estudos recentes revelam dúvidas
acerca da verdadeira paternidade da criança.
Apesar de
o próprio Delacroix não ter, aparentemente, tomado conhecimento, circulavam
rumores de que seu pai verdadeiro era uma figura muito mais poderosa. Pois
Charles foi substituído no Ministério das Relações Exteriores por Talleyrand,
amigo da família e um dos mais brilhantes estadistas de seu tempo. Tudo indica
que o grande Talleyrand resolvera conquistar não apenas o cargo de Charles
Delacroix, mas também, temporariamente, sua mulher.
Após
retornar da Holanda, Charles foi nomeado prefeito do Departamento de Gironda, e
a família se transferiu para Bordeaux. A cidade era tranquila, se comparada a
Paris, mas a infância de Eugène não foi nada monótona. Ao que se sabe, aos 5
anos de idade, já tinha quase se enforcado, queimado, afogado, envenenado e
asfixiado. Quase se enforcado ao prender a cabeça nas rédeas de um cavalo, que
o arrastou; queimado, quando ateou fogo ao cortinado que cobria sua cama;
afogado, quando sua ama, acidentalmente, deixou-o cair nas águas do porto de Bordeaux;
envenenado, pela inadvertida ingestão de acetato de cobre; e asfixiado ao
engasgar-se com uma uva.
A vida
escolar em Bordeaux já era um pouco menos excitante. Delacroix revelara aptidão
para a música, e o organista da cidade, que conhecera Mozart, encorajou-o a
estudar violino. Mas em 1805, quando Eugène tinha 7 anos, o pai morreu, e,
alguns meses mais tarde, a família retornou a Paris. Eugène entrou para o Liceu
Imperial, onde teve um bom desempenho, embora sem qualquer brilhantismo,
demonstrando entusiasmo pela literatura. Passava as férias na Normandia, na
magnífica propriedade de seus primos. Era uma mansão anexa a uma antiga abadia
gótica, cujas pitorescas ruínas causavam forte impressão no espírito do menino.
Começou a desenhar, no que foi encorajado por seu tio Henri Riesener, também
ele pintor de talento. Juntos, faziam visitas ocasionais ao estúdio de
Pierre-Narcisse Guérin, um proeminente pintor acadêmico e professor de renome.
Em 1814
morreu a mãe de Delacroix, deixando-o inconsolável. O jovem Eugène foi morar,
então, com sua irmã, Henrietela. Mas por pouco tempo, pois ainda nesse ano ela
envolveria a família em alguns processos legais desastrosamente dispendiosos,
acabando por levar todos à falência. Um ano depois, com a determinação que
seria uma de suas características mais marcantes, Eugène inscreveu-se como
aluno no estúdio de Guérin.
UM APRENDIZADO CLÁSSICO
Em 1816,
Delacroix ingressou na Escola de Belas-Artes, então dominada pelos pintores
neoclássicos, partidários de um programa de ensino rigidamente formalista, que
privilegiava o estudo dos modelos em gesso de esculturas gregas e romanas e
desenhos do natural com modelos nus. O desenho meticuloso e os temas
edificantes da História Antiga e da mitologia estavam na ordem do dia.
Um dos
alunos era, no entanto, um jovem chamado Théodore Géricault, que estava
interessado em desenvolver uma forma de expressão absolutamente pessoal. Em
1818 Delacroix observou o trabalho de Géricault, que pintava sua imensa tela
retratando os sobreviventes de um naufrágio: "A Balsa do
'Medusa". Ficou tão entusiasmado — lembraria ele posteriormente — que,
ao deixar o estúdio de Géricault, começou a "correr como um louco",
sem parar, até chegar em casa.
Os
resultados desse encontro puderam ser apreciados em 1822, quando Delacroix
completou sua primeira grande tela e a exibiu no Salão oficial. Naquela época,
o sucesso nessa mostra pública era fundamental para a carreira de um jovem
artista, e Delacroix se lançou nesse empreendimento com todo o vigor, produzindo
uma tela de grandes proporções, com um tema nada convencional: A Barca
de Dante, inspirada no "Inferno" da Divina Comédia.
Abandonava,
assim, os tradicionais mitos e heróis gregos. Foi uma sensação. O Barão Gros,
um dos pintores prediletos de Napoleão, emoldurou à própria custa o quadro,
que, mais tarde, seria adquirido pelo Estado e exposto nas galerias do Palácio
do Luxemburgo.
Delacroix
saiu da Escola de Belas-Artes em absoluto triunfo: 24 anos de idade,
fervilhando de ambição e confiança no próprio talento. Começou a escrever um
diário, num esforço consciente de examinar suas idéias, motivações e vivências.
Envolveu-se nos inflamados debates artísticos da época, penetrou no círculo dos
escritores românticos, que se rebelavam contra a tradição acadêmica e
normativa, buscando a verdade em suas próprias respostas emocionais em face da
realidade. A segunda grande obra de Delacroix a participar do Salão — Os
Massacres de Quios — reflete essa preocupação e inaugura a violenta
disputa entre românticos e discípulos da escola neoclássica.
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