segunda-feira, 6 de abril de 2020

81, Língua Portuguesa, Professora Rosenara


REGISTRO DE ATIVIDADES DOMICILIARES
(6 à 9/04/2020)


ESCOLA: Municipal de Ensino Fundamental Nova Petrópolis

PÚBLICO ALVO: 8º ano


COMPONENTE CURRICULAR: Língua Portuguesa

Período que corresponde a atividade domiciliar

6 de abril até 9 de abril

Objeto(s) do conhecimento

Leitura e interpretação textual.
Significado de palavras.

Objetivo(s) da atividade domiciliar

Ler e interpretar texto reflexivo; pesquisar o significado de palavras desconhecidas.
Coronavírus escancarou a conta do nosso egoísmo
Se antes bastava se cercar no próprio feudo e a guerra não chegaria ali, agora, para funcionar para mim, precisa funcionar para todo mundo
PEDRO AIHARA
SERGIO PEREZ / REUTERS
No último dia 22, no meio da pandemia de coronavírus, uma senhora de 90 anos faleceu na Bélgica após ter recusado o ventilador mecânico para ceder o equipamento em favor de alguém mais jovem. “Guarde para alguém mais jovem. Eu vivi uma boa vida” foi o que ela disse dias antes de falecer.
Não é hidroxicloroquina ou cloroquina que irão nos salvar dessa vez. O inimigo dessa vez é invisível e implacável: fez os líderes das grandes nações parecem crianças assustadas, fez o Papa sozinho e cabisbaixo perdoar os nossos pecados, fez judeus e muçulmanos rezarem juntos.
As nossas tradicionais armaduras falharam. De nada adiantou o poderio militar nuclear dos mísseis ou os inalcançáveis imóveis de luxo do Central Park: o gramado agora está cheio de tendas de hospital de campanha. Nossos planos de saúde caros não foram suficientes para tirar o receio da falta de equipamentos de nossas cabeças e tampouco nossos celulares e televisões sofisticados foram capazes de entreter no meio dessa solidão sentida e vivenciada por todos.
Sentimo-nos amedrontados, perdidos, sozinhos. E aí, diante de algo que não sabemos como nem quando vai acabar, fomos obrigados a ajoelhar. E para ajoelhar, todos nós fomos obrigados a aprender que é necessário sair dos nossos tronos, das nossas bolhas, das nossas coberturas, das nossas realidades e aproximar a cabeça do chão, frágeis e despidos.
Quando a gente se abaixou, acabamos esbarrando as cabeças uns nos outros e o milagre começou a acontecer. Começamos a perceber que a doença que mata a minha mãe também mata a mãe de quem mora do outro lado do mundo. Vimos que o mesmo problema que quebra o meu negócio desemprega o meu funcionário mais simples. Passamos a enxergar a importância de profissões que muitas vezes considerávamos pouco importantes ou dispensáveis. Constatamos que o medicamento que me falta também faltará para quem mora na favela. Sentimos que a mesma solidão que se abate sobre mim angustia o outro que tem nome, cor, origem e religião diferentes dos meus.
Despedaçados perante nossos medos mais ocultos, enfim fomos obrigados a admitir aquilo que já sabíamos mas não queríamos aceitar: somos todos iguais. No final das contas, após todo o dinheiro, todo o status, todos os privilégios, encolhemo-nos de medo das mesmas coisas e sentimos uma compaixão comum diante dos números que crescem, seja na Itália, nos Estados Unidos ou na nossa cidade.
Se antes bastava se cercar no próprio feudo e a guerra não chegaria ali, agora, para funcionar para mim, precisa funcionar para todo mundo. Para que eu seja protegido, preciso proteger os outros. A conta do nosso egoísmo chegou, cara e sem nenhum desconto.
Mas com o milagre, percebemos que essa conta pode ser paga de outra forma. Dito e repetido, não são hidroxicloroquina ou cloroquina que encerrarão esses tempos obscuros. Já descobrimos a cura e ela se chama amor. Pode parecer piegas, não é mesmo? Mas a verdade é que chegamos no ponto decisivo, na curva da inflexão na qual ou nós mudamos a maneira de convivermos enquanto sociedade ou estaremos sempre à mercê de nosso próprio egoísmo disfarçado de vírus, guerras, crises econômicas ou governantes inescrupulosos.
Para muito além do desespero e caos que estafam a nossa mente, o Brasil que se apresenta agora é o Brasil dos profissionais de saúde exaustos que se revezam incansavelmente para salvar pessoas que nem conhecem. É o Brasil de empresários assumindo prejuízos para não demitir seus funcionários. É o Brasil de pessoas parando suas atividades para garantir o bem-estar de outros. É o Brasil dos entregadores, garis, caminhoneiros e caixas de supermercados. É o Brasil de pessoas que doam o pouco que tem para que quem tem menos ainda possa ter algo. É o país do amor ao próximo e de gente que se preocupa com gente, de forma real e para além de qualquer discurso vazio e hipócrita.
Esse país de gente solidária, trabalhadora e resiliente pode afinal ser o gigante que acordou, ainda que tantos discursos e personagens irresponsáveis tentem macular nosso foco. A reflexão sobre qual lado da história iremos (e optaremos por) estar nunca foi tão necessária.
Tempos difíceis servem para algumas coisas, entre elas grandes aprendizados e reflexões incômodas. Quando aquela senhora heroína na Bélgica cedeu seu equipamento, a afirmação dela pode e deve ser repetida aqui: “guarde para alguém mais jovem”. E dessa vez, não é sobre o equipamento. É sobre o legado e a história que estamos construindo nesse momento decisivo. É a hora de abaixarmos as nossas bandeiras ideológicas e substituí-las por empatia, bom-senso e álcool em gel. Fiquemos em casa e ajudemos uns aos outros, irrestritamente. Construamos, unidos, nesse momento difícil, uma nação melhor e mais solidária, para que possamos deixar, após a crise, um país melhor “guardado para os mais jovens”. É essa a real cura para o temido vírus.
Pedro Aihara é bombeiro militar, mestre em Direitos Humanos, especialista em Gestão e Prevenção de desastres, professor e palestrante. Atuou em crises como as de Brumadinho, Mariana, Janaúba, entre outras.

QUESTÕES SOBRE O TEXTO:
1) No início do texto, há um relato que impressiona o leitor. Que relato é esse e por que impressiona?
2) Explique o trecho Se antes bastava se cercar no próprio feudo e a guerra não chegaria ali, agora, para funcionar para mim, precisa funcionar para todo mundo”.
3) Segundo o texto, os valores materiais das pessoas são importantes no momento em que estamos vivendo? Por quê?
4) Pedro Aihara, autor do texto, faz o leitor refletir sobre temas sociais extremamente relevantes. Que temas são esses?
5) Que Brasil é relatado no texto?
6) Leia o trecho:
“Esse país de gente solidária, trabalhadora e resiliente pode afinal ser o gigante que acordou, ainda que tantos discursos e personagens irresponsáveis tentem macular nosso foco.”
Há, na frase acima, um relato de ideias opostas. Que ideias são essas e qual sua opinião sobre isso?
7)  No último parágrafo, aparecem algumas dicas fundamentais para o atual contexto em que estamos vivendo. Que dicas são essas e qual sua importância?
8) Pense e responda : o que você pode fazer, enquanto jovem cidadão alvoradense,  para ajudar a sanar os problemas relatados no texto?
9) Escreva 5 palavras do texto, as quais não conhece o significado e procure sua definição, escrevendo-a ao lado da palavra. Veja o exemplo:
Hidroxicloroquina: medicamento utilizado no tratamento de doenças como malária, artrite reumatoide, lúpus. Também utilizado no tratamento de coronavírus.




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