ATIVIDADE DA TURMA 61
Os Vedas: um livro aberto
Entenda por que os Vedas, escrituras sagradas mais antigas da
história, são ao mesmo tempo origem da unidade e da diversidade das múltiplas
correntes do hinduísmo
Há
cerca de 3 500 anos, as comunidades na região do vale do Indo, atual norte da
Índia, começaram a organizar um dos sistemas religiosos mais antigos de que
temos notícia: o hinduísmo. Suas crenças foram transmitidas oralmente de
geração em geração por muitos séculos até serem transcritas nos Vedas,
compilação de hinos e preces considerada como o primeiro livro sagrado da
história. O conteúdo dessa literatura sagrada, composta de 4 volumes de texto
em versos, explica ao mesmo tempo a unidade e a variedade das múltiplas
correntes do hinduísmo. Graças a alguns de seus ensinamentos mais importantes,
esse conjunto de livros é sagrado para mais de 1 bilhão de pessoas que seguem
seitas tão diferentes a ponto de serem monoteístas, politeístas ou panteístas –
e ainda assim integrarem a mesma religião.
Os
historiadores acreditam que a primeira versão dos Vedas em papel seja do século
2 a.C., quando o povo hindu desenvolveu um sistema de escrita. Segundo a lenda,
eles teriam sido organizados por Vyasa, um sábio que seria a encarnação de
Vishnu, deus que em todos os ciclos de criação e destruição do Universo elabora
as escrituras em 4 livros, para garantir que os cânticos se propaguem e se
eternizem. O mesmo Vyasa seria responsável por outros textos sagrados do
hinduísmo, como o Mahabharata, ditado por ele a Ganesh, o deus com cabeça de
elefante, que teria passado as palavras para o papel. Lendas à parte, os
historiadores estimam que os 4 Vedas – RigVeda, Yajurveda, Samaveda e
Atharvaveda – teriam sido compilados entre 1500 e 900 a.C. Mas, seja qual for
sua origem, é nos textos védicos que estão os principais conceitos e símbolos
do hinduísmo, os deuses, lendas e ensinamentos que dão forma e unidade à
religião.
Nome
|
Significado
|
Conteúdo
|
Rigveda
Yajurveda Samaveda Atarvaveda |
"veda dos hinos"
"veda do sacrifício" "veda dos cantos rituais" -- |
(hino)
e veda
(sacrifício) e veda. Foco em liturgia, rituais e sacrifício. (canto ritual) e veda (um tipo de sacerdote) e veda |
“A
essência da tradição dos Vedas é o respeito aos ancestrais e a vinculação aos
deuses”, afirma Carlos Eduardo Barbosa. “Essas condições pautaram e pautam
todas as correntes do hinduísmo. Por isso, esses livros são aceitos como textos
sagrados por todos os seguidores de todas as correntes”, afirma o cientista da
religião Joachim Andrade, autor de uma tese de doutorado sobre a cultura hindu.
Os Vedas foram cruciais no período inicial do hinduísmo, porque ajudaram a
aglutinar várias crenças pré-históricas em um mesmo sistema religioso. Mais
tarde, no século 9, a religião passou por um processo organizado de unificação,
e os textos védicos foram igualmente importantes para garantir a reunião de
várias crenças diferentes em um mesmo sistema religioso. Na época, por
influência de um sacerdote hindu chamado Adi Shankara, várias correntes do
hinduísmo que não acreditavam nos antigos textos sagrados reconduziram os 4
livros ao seu espaço privilegiado nos rituais. Até porque seu conteúdo era
aberto o suficiente para cada grupo tirar dele sua própria interpretação e
multiplicar ainda mais as correntes hinduístas.
A multiplicação de crenças
“Os
Vedas são textos ritualísticos, e não uma enciclopédia de procedimentos
religiosos”, diz Carlos Eduardo Barbosa, especialista em cultura hindu e
professor do Instituto de Cultura Hindu Naradeva Shala, em São Paulo. Além
disso, todos os textos incorporam um conceito filosófico que está na origem de
todo o sistema de crenças hinduísta e permanece vivo na maioria das correntes
existentes hoje em dia: o monismo. “Segundo essa filosofia, somos todos partes
de uma coisa só, que é uma espécie de inteligência divina”, diz o historiador
Edgard Ferreira Neto, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Esse
princípio de tolerância a outros credos presente nos Vedas distingue a religião
hindu de muitas outras, em que a fé alheia não é vista com bons olhos, e
permite uma convivência pacífica entre as correntes que nascem de cada
interpretação diferente que ele permite. Carlos Eduardo Barbosa, que já foi à
Índia várias vezes, dá um exemplo da unidade que existe entre os hindus, apesar
da diversidade de crenças. “Nas ruas, em todos os cantos, você encontra devotos
do deus Ganesh, por exemplo, convivendo em harmonia com devotos de Shiva.
Pessoas que cultuam divindades diferentes se respeitam mutuamente, pois todos
se reconhecem como hindus autênticos, apesar das diferenças.”
E
aqui vale dar uma idéia do que é a variedade de crenças do hinduísmo. Em
relação aos cultos, existem 4 principais: vaishnavas, shaivas, shaktas e
smartas. Entre outras particularidades, cada uma concentra seus rituais de
devoção em deuses específicos – no shaivismo, por exemplo, a divindade mais
respeitada é Shiva. Outro tipo de classificação leva em conta a filosofia de
vida e a interpretação dos textos sagrados. Nesse campo há pelo menos 6 escolas
principais: sankhya, yoga, nyaya, vaisheshika, purva mimamsa e vedanta – todas
têm, igualmente, suas respectivas subdivisões. “Trata-se de uma religião que
incorpora a sabedoria de vários mestres, e que, por isso, abre espaço para
inúmeras interpretações”, afirma Joachim Andrade.
A
variedade é tão grande que seguidores de crenças monoteístas, politeístas ou
panteístas – que acreditam em um deus universal, em vários ou na presença deles
em todas as coisas – tomam banho juntos no mesmo rio Ganges, todos debaixo do
grande guarda-chuva hinduísta. Os shaivistas adoram Shiva, mas reconhecem a
existência de outros deuses, logo, são politeístas. Os vaishnavas gaudias são
devotos exclusivos de Krishna, e são considerados monoteístas. Já os vedantas
acreditam que todo o Universo e a realidade são expressões de Brahma, princípio
infinito, sem passado nem futuro, e se encaixam na categoria dos panteístas.
Apesar das diferenças fundamentais, essas correntes têm pelo menos uma coisa em
comum: “Todas as correntes aceitam os Vedas como escrituras sagradas”, diz
Carlos Eduardo Barbosa.
Para
muitos, a descentralização da doutrina é a grande responsável pela sua riqueza.
Mas diante de tanta diversidade é natural que surjam correntes que se
distanciam e, em alguns casos, acabam se transformando em religiões
independentes. É o caso do budismo e do jainismo, que surgiram do seio do
hinduísmo antigo e reúnem seguidores até hoje. O budismo surgiu por volta do século
6 a.C., por causa do descontentamento de alguns sábios e sacerdotes com os
rituais e sacrifícios difundidos nos Vedas, entre outras características dos
textos hindus. O jainismo, que se organizou a partir do século 7 a.C., tem como
base doutrinária o princípio da não-violência contra todos os seres vivos como
forma de alcançar a elevação espiritual. Outra corrente que ganhou contornos de
religião independente foi o sikhismo, que surgiu no século 15 e defende a
impossibilidade de encarnação e representação de Deus, entre outros princípios.
De uma forma ou de outra, todas beberam da mesma fonte ancestral, antes de
assumirem sua própria identidade. Seguindo seus caminhos como religiões
independentes, elas também preservaram o ideal de tolerância cultivado nas
civilizações do vale do Indo. Numa região em que tantas religiões nasceram,
isso provavelmente foi uma condição fundamental para sua existência.
1.
Com
base na leitura todo texto acima responda:
2.
O
que são os Vedas? Quando e onde surgiu os textos védicos?
3.
Segundo
a tradição hindu, quem é o autor dos Vedas?
4.
Quantos?
Quais são livros védicos e qual o conteúdo de cada um?
5.
Quais
são os principais cultos e escolas derivadas dos Vedas?
6.
Quando?
Quais as outras religiões que surgiram a partir do Vedas como religiões
independentes? Por que estas correntes divergiram do Hinduísmo?
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